3.3 João
João destaca a dimensão mística e efetiva do Espírito Santo.
O Espírito Santo é o prometido por Jesus, é o outro Paráclito, o consolador. Ele ilumina a inteligência para esclarecer toda a verdade trazida por Jesus.
A comunidade joanina vive essencialmente uma experiência espiritual, liberta do judaísmo e da lei. É uma comunidade mais madura, pois é de um outro contexto em relação á dos sinóticos, e por esse distanciamento histórico que possui, tem consciência que o Espírito é sua fonte de vida por excelência.
Diferentemente da experiência narrada em Corinto como a de em Atos dos Apóstolos onde acontece de forma excepcional, na comunidade joanina é uma experiência mística, que permanece e continua a vida toda. (cf 1Jo 3,24;1Jo 4,13).
Em João o Espírito santo prova para a comunidade que Jesus permanece com ela:
- Dando – lhes a certeza de que renasceu para uma vida nova (Jo, 3-5-6-8).
- De que foi batizada (Jo 1,13).
- De que adora Deus em Espírito e Verdade (Jo 4, 23 – 24).
- De que a efusão desse Espírito faz viver a comunidade (Jo 7,39).
Portanto ela é consciente de que nasce do Espírito Santo dado pelo ressuscitado (Jo 19,34;20,22). Para essa comunidade o critério para conhecer se o Espírito está ou não presente é a afirmação de que Jesus veio na carne, ou seja, a fé na encarnação.
Para o autor Jesus é quem dá o Espírito, e assim como deu com sua vida, morte e ressurreição continua dando – o pela história a fora. O Espírito em João é essencialmente um dom de Cristo.
A primazia da ágape, entendida como amor efetivo ao próximo é a base da comunidade joanina.
Para a comunidade joanina a afirmação pertencente ao cristianismo : Deus é Amor, não é de um amor teórico ou imobilizante ou alienante, mas um amor efetivo, concreto expressado no compromisso , é prática real de transformação do mundo fundamentado em (Jo 13,34 -35) onde o Cristo fala que seremos reconhecidos como seus discípulos, se amarmos como Ele amou, e nessa prática Deus permanece em nós.
A comunidade joanina pertence á uma igreja onde o Espírito é ativo, e o tempo dessa igreja é o tempo da missão, do testemunho e do Kerígma.
A experiência do Espírito não é menos importante que a revelação do Filho. Pelo contrário é a experiência do espírito que constitui o Novo testamento.
São quatro as categorias no Novo Testamento que descrevem a experiência do Espírito:
a) A história: A descida do Espírito Santo sobre os apóstolos em atos é o sinal da chegada dos últimos dias. A efusão do Espírito sobre toda a carne significa que a história chegou ao fim. Não o fim cronológico, mas que Deus já fez e disse tudo que tinha que fazer na humanidade. Sua palavra definitiva já foi pronunciada, a própria palavra se encarnou na história.
b) A linguagem : Um dos sinais que acompanham a vinda do Espírito em atos , “vossos filhos e vossa filhas hão de profetizar”. A linguagem assume seu ser total. O Espírito é a grande comunicação de Cristo, Ele vai se tornando testemunho de Jesus, inspiração dos que n’Ele crêem, entendimento das línguas e das pessoas entre si. A Babel do Antigo Testamento foi castigada, porque sua soberba uniformizadora , acabava com a pluralidade criadora de línguas, de povos e culturas. A experiência de Pentecostes cria uma nova linguagem, pela qual todos se entenderão, porque o próprio Espírito lhes interpreta na comunhão de seus corações (cf. At 2,6)
c) A sociedade : É o Espírito Santo que lança as bases da nova sociedade. No Cenáculo surge o novo tipo de sociedade, a sociedade dos primeiros cristãos que será o modelo de todas as sociedades e ela é fundamentada nos quatro pilares, da partilha fraterna (koinonia), da oração em comum (prosenchai), da fidelidade à doutrina dos apóstolos (didaché) e na fração do pão (eucaristia)
d) A missão : O Espírito Santo impulsiona as comunidades para a missão, para o anúncio do Evangelho de Cristo á toda terra. É impensável o cristianismo sem a missão.
Os últimos dias não chegaram só para uma comunidade , mas para toda a história. A comunidade é todo o grupo humano, a missão envolve toda a humanidade num processo de comunicação e diálogo.
Não há uma língua universal como diz o livro dos atos, mas que cada um entenda os que falam, na sua própria língua. Não há dominação a partir de uma língua privilegiada.
Em Pentecostes ocorre a inversão de Babel, os homens quiseram construir uma torre, impor uma só língua, um só governo, um só poder que alcançasse os céus. Deus os confundiu com a beleza e diversidade das línguas, as quais impedia o monopólio do saber, do poder e globalização uniformizante.
Em atos por obra do Espírito Santo acontece o ponto de partida para a busca da unidade e do entendimento comum na única língua que não é o da prepotência, mas do amor.
O Espírito suscita pois um novo ser humano uma nova criação cujo paradigma é Jesus Cristo.
A presença do Espírito que constrói a unidade em Jesus Cristo, nos leva a apenas a uma contemplação imobilizante. É, ao contrário, indicativo em via de acontecer, que é imperativo á ação.